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domingo, 19 de fevereiro de 2012

SE EU AINDA FOSSE

As primárias que estão em curso, no Partido Socialista de Braga, para as próximas eleições autárquicas estão a aquecer. E estando ainda distantes da realização dessas eleições parece-me que as coisas vão aquecer até ao rubro. Porque, finalmente, há vozes que pertenciam a um único coro, que estão a desafinar e a transferir-se para um outro grupo coral.
Ora isto era, por demais, previsível de ocorrer, quando o Sr. Engenheiro Mesquita Machado se retirasse, deixando a equipa sem treinador. Aliás, há uns anos para cá, ocorreu no PS de Braga um processo de enquistamento do partido, liderado pelo atual Vice-Presidente, criando um quisto no aparelho composto pelos respetivos boys, obedientes por necessidade e também por conveniência.
Efetivamente, este Sr. Vice-Presidente da Câmara e Coordenador da Secção de Braga do PS, de forma cirúrgica e disfarçada, veio liderando um processo de afastamento de muitos militantes dos órgãos do partido, compondo as listas para esses órgãos com os militantes que lhe convinham. Foi o que ocorreu nas anteriores eleições para a Comissão Política e na composição da última lista para a Assembleia Municipal.
Entretanto, os outros militantes, estavam limitados a participar em 2 ou 3 Assembleias da Secção, realizadas em cada ano, só para justificar que tinham assim oportunidade de intervir no Partido.
Quando aderi ao Partido Socialista, há cerca de 20 anos atrás, fi-lo porque ideologicamente era o que mais se aproximava das minhas ideias. Fi-lo também porque o Partido Socialista de então, pelo menos na Secção de Braga, estava organizado em Comissões de Trabalho e Estudo, onde se discutia política e ideias de forma aberta, estando o PS no Governo ou na oposição a nível nacional. Com o passar dos anos, tudo isto se foi esbatendo acompanhando o processo global de relegação das ideias políticas para segundo plano, em detrimento dos jogos de interesses no campo económico e dos negócios.
Por isto se foi instalando em mim uma profunda desilusão com a política e com os seus agentes mais diretos, que ocupavam os cargos de poder.
Até que há cerca de 2 anos atrás ao ser confrontado, não pessoalmente mas pelo telefone, com determinadas afirmações e com uma postura arrogante do “Chefe” da Secção de Braga do PS, decidi por fim à minha ligação ao Partido Socialista.
O que fiz foi escrever uma carta de duas páginas, dirigida ao Sr. José Sócrates, na qual exprimi a minha opinião sobre o que se estava a passar na Secção de Braga e as razões do meu abandono. A esta carta anexei o cartão de militante. Como única resposta que obtive, foi uma singela notificação de que a minha desfiliação do PS estava consumada.
Chegados a este ponto, se eu ainda fosse militante do Partido Socialista e tivesse oportunidade de contribuir para a escolha do próximo Presidente da Comissão Política da Secção de Braga, não apoiaria o Sr. Vítor Sousa. Por muitas e variadas razões, nenhuma de cariz pessoal porque eu não misturo nem confundo os contextos.
Se eu ainda fosse militante do Partido Socialista, não apoiaria o Vítor Sousa porque ele está completamente amarrado a interesses em que não prevalece o interesse público e coletivo. Porque ele não é capaz de colocar a competência e a capacidade acima dos favores que terá que fazer para compensar quem o vai apoiar. Porque ele não tem uma única ideia (pelo menos ainda não se expressou) sobre o que deverá ser o futuro de Braga e sobre uma governação que privilegie a qualidade de vida das pessoas em detrimento de mais do mesmo a que estamos habituados – obras, construção e betão. Porque ele não tem capacidade para constituir e liderar uma equipa de pessoas competentes, que pensem pela própria cabeça e que tenham ideias a consubstanciar em projetos de intervenção que beneficiem a população em geral e não este ou aquele em particular. Porque ele não teve ainda a coragem de se assumir, caso ganhe as “primárias” no PS, como candidato nas próximas autárquicas. Porque ele quer controlar tudo e estar em todo o lado e isso é de todo impossível, até para a pessoa mais competente do mundo. Porque ele não sabe distinguir o patamar político-partidário do patamar do bem coletivo e da governação que prossiga o interesse público.

Em suma, se eu ainda fosse militante do Partido Socialista, não votaria no Senhor Vítor Sousa, nas “primárias” do PS, porque ele não tem vontade e muito menos capacidade para se adaptar a um novo paradigma de governação, que os tempos atuais exigem, em que os escassos recursos disponíveis têm que ser utilizados e geridos, sem esbanjamentos em coisas supérfluas mas sim em prol do efetivo bem-estar das pessoas, no que para elas é essencial.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O SENHOR PRESIDENTE FALOU E DISSE

Eu podia estar comodamente sossegado, preocupando-me apenas com o meu trabalho e com os projetos em que estou envolvido, que por sinal me estão a dar enorme satisfação profissional e pessoal, mas um homem não aguente.
 Então o Senhor Presidente, como a maioria dos seus súbditos o trata, veio estes dias exigir que o Governo tome “medidas concretas “ de apoio ao setor da construção civil que, segundo ele, atravessa uma crise sem precedentes. Justificando esta exigência com o facto de a Câmara de Braga estar a dar um bom exemplo”. Vem ainda dizer que o setor da construção civil precisa de uma reestruturação, explicando que “essa reestruturação não deve implicar despedimentos, mas sim a revitalização” do setor” e que é preciso por o setor a trabalhar.
Eu sei que o Senhor Presidente é um profundo conhecedor do setor da construção civil. Diria até que, ao longo de mais de trinta anos de experiência adquirida, através da prioridade absoluta que deu sempre a este setor, pouco ou nada se preocupando com os restantes setores da atividade económica. Contudo fico surpreendido por o Senhor Presidente não apontar medidas concretas para revitalizar o setor da construção e já agora, medidas concretas também para todos os outros setores que também são “filhos de deus”. Até porque, pelo menos que me lembre, o Senhor Presidente nunca apoiou setores de atividade económica que não tivessem incorporação de betão.
De há muitos anos para cá, o poder central e o poder local, incluindo o Senhor Presidente da Câmara de Braga, são responsáveis por grande parte do que está agora a acontecer no setor da construção civil. Por incompetência pura e talvez por interesses que a própria razão desconhece.
Mas já que ninguém lhe fez as perguntas certas, faço-as eu agora.
Porque é que o Senhor Presidente, enquanto responsável político máximo pela governação do Concelho de Braga não alertou, em tempo útil, para o excesso de construção nova que se continuou a realizar? Se não sabia que já havia excesso de fogos habitacionais no Concelho, pecou por omissão e incompetência. Se sabia e não fez nada, pecou por ação.
Pois é Senhor Presidente, o senhor devia saber que em 2003, já o Concelho de Braga tinha 60.000 fogos habitacionais em excesso. Que davam para duplicar a população de Braga. Isto segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, por mim utilizados num estudo que realizei. Mas houve quem me dissesse que não tinha razão. Que o setor ainda estava pujante e rentável. Quando já na altura, eu predizia que as empresas, apesar de serem privadas, deveriam ser alertadas para a reconversão de atividade, nomeadamente para a recuperação e regeneração de imóveis degradados. E aqui sim, a Câmara poderia ter uma intervenção importante, em parceria com essas empresas, promovendo a revitalização urbana e consequentemente alavancando outras atividades, como o comércio, restauração e serviços, além de repovoar o centro histórico. Mas não o fez e em agora falar nisso com 9 anos de atraso. Na altura o setor financeiro, nomeadamente a banca, tinha capacidade e disponibilidade para apoiar estes projetos. E agora onde é que as empresas se vão financiar para desenvolver estes projetos?
O Senhor Presidente continua a achar que o Estado tem que apoiar estas empresas de construção civil em dificuldades. O Senhor e mais alguns continuam a ignorar que, no país inteiro, há 800.000 fogos excedentários (dariam para um crescimento populacional em cerca de 24%) e muitos milhões de metros quadrados de edificado de diversos tipos sem qualquer utilização, votados ao abandono e em degradação.
Então o Senhor acha, que se deve manter intacto o tecido empresarial da construção civil, sem reduzir o número e a dimensão das empresas, que são privadas tal como os lucros que obtiveram ao longo dos anos e que desconhecemos por onde andam, e que os prejuízos sejam agora nacionalizados, sendo nós contribuintes a suportá-los?
Questiona-me o senhor: E os trabalhadores, como no caso da FDO, que ficam sem emprego e sem salário? Pois é com esses e com todos os que já estejam ou que venham a ficar nessa situação, seja do setor da construção ou de qualquer outro, que me preocupo.
Mas então o que o Senhor Presidente deveria fazer e que eu já referi noutra crónica, era poupar os milhões em obras que está a anunciar e na compra de mais imóveis (como a Fábrica da Confiança) e com esse dinheiro criar um fundo de capital de apoio às empresas, para evitar que elas encerrem a atividade, evitando o desemprego de muitos trabalhadores.
Com o desemprego a aumentar, o Senhor Presidente deveria consubstanciar as suas preocupações sociais, criando um banco alimentar municipal e refeitórios sociais para as muitas famílias carenciadas, muitas delas a passar fome, em consequência do desemprego, em muitos casos de todos os elementos do agregado familiar.
Que me diz a isto Senhor Presidente? Vai responder que não está nas competências da Câmara? Só que o Senhor não pode vir com essa desculpa, porque não é verdade, pois até tem uma empresa municipal que o poderá fazer com maior agilidade e eficácia. É preciso é dar-lhe meios, já que o lote dos CTT já era.
Então o Senhor Presidente está convencido que, com mais umas obras será possível manter a viabilidade de todas as empresas privadas de construção, que proliferaram como cogumelos, muito por culpa da ausência de um planeamento estratégico para a cidade e para o Concelho de Braga, durante 35 anos? Ou acha que teremos que ser nós, os contribuintes a subsidiar com os nossos impostos todas essas empresas, mesmo as que não têm mercado, quando os lucros, no tempo das vacas gordas, ficaram com quem os obteve. E as empresas dos outros setores, como ficam no meio disto? Não têm o mesmo direito? E como se garante que esses eventuais apoios que fossem concedidos, beneficiavam os trabalhadores que são quem mais precisa?
Pronto, já sei, que o Senhor Presidente quer ficar na história como o campeão da promoção do betão.
Pois eu acho que muitos dos 700 trabalhadores da FDO votaram si porque acreditavam que, quando ocorresse uma situação económica difícil como a que está em curso, com graves consequências ao nível social e do bem-estar, o Senhor Presidente tomaria medidas que respondessem imediatamente às graves carências ocorrentes. Tal como muitos outros, trabalhadores de outras empresas também já com problemas e de outras que, inevitavelmente, virão a tê-los, votaram em si na crença de que poderiam contar consigo. Provavelmente, muitos deles estarão desiludidos.
Pense nisto Senhor Presidente, que ainda está a tempo. Mesmo sabendo que está no último mandato mas também que ainda tem 2 anos de governação.
Tem aqui a oportunidade de ficar na história por motivos que perdurarão muito mais tempo.
É que pessoas mal alimentadas, com graves carências também a outros níveis, não querem saber de mais um arranjo urbanístico, mais uma estrada ou qualquer outra obra.
O que querem é sobreviver com dignidade e muitos, infelizmente, até dificuldades têm para alimentar os filhos.