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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ESTA GENTE NÃO PENSA?

Não há adjectivos para qualificar a decisão que foi tomada, ontem, em reunião do executivo do Município de Braga. Nem queria acreditar que Vítor Sousa e Ricardo Rio tenham emparceirado para, com o apoio do Presidente Mesquita Machado, terem decidido, por unanimidade de todos os vereadores, adquirir o edifício da Fábrica Confiança, por 3.500.000 de euros.
Quando os próximos anos vão ser de grandes dificuldades para a esmagadora maioria da população do país, em que a crise económica e financeira se irá acentuar provocando a agudização das carências das pessoas de baixos rendimentos, em que o desemprego vai aumentar com consequências imprevisíveis ao nível social, ora cá esta – mais um imóvel comprado pela Câmara de Braga.
Não, eles não estão a sofrer de autismo. Sou eu que não estou a ver bem a coisa. Justificam a compra com a “monumentalidade” do edifício. E eu a pensar que iriam reativar o fabrico de sabonetes, criando postos de trabalho e rendimento., contribuindo desta forma para minorar (ainda que pouco) a recessão económica em que já entrámos.
Aos demais ainda se pode conceder uma desculpa, ainda que muito ténue, porque lhes é muito difícil adaptarem-se a uma nova lógica de pensamento e ação, muito distinta daquilo a que sempre pensaram e fizeram. Mas o Ricardo Rio, sendo economista de formação tem obrigação de ter uma perspetiva diferente, quanto às prioridades de intervenção económica e de utilização dos parcos recursos financeiros disponíveis.
Se em todo o país se continuar a comprar, utilizando dinheiros públicos, todos os imóveis que tenham interesse histórico, então é que será bonito. Vamos todos alimentar-nos de tijolo, ferro, madeira e demais componentes dos edifícios.
Quando é que esta gente ganha juízo. E não venham, como sempre, com a segunda justificação de que vão recorrer aos fundos do QREN. Pois eu já disse que o QREN deveria ser reprogramado de forma a deixar de financiar mais obras e este tipo de transações, com exceção das infra-estruturais, absolutamente, imprescindíveis. Mas será que o regabofe é para continuar? Não tarde até as almas do outro mundo se levantam porque, pelos vistos, as que cá andam continuam impávidas e serenas perante estes atropelos.
A esta compra que vai ser feita, porque já está decidido, temos que juntar uma outra feita recentemente – o antigo quartel da G.N.R. Mais uns milhões de euros aos quais há que acrescentar o que se vai gastar em obras. Julgo que não errarei muito se no total resultar num gasto de 10 a 15 milhões de euros. Sim, um gasto porque eu não considero isto como um investimento mas explico porquê. Um investimento é uma aplicação de dinheiro ou capital com a perspetiva de obter rendimento. Ora a mim ninguém me convence que estes gastos de capital conseguirão gerar qualquer mais-valia. Muito pelo contrário, dado que nuns próximos longos anos todos os imóveis vão desvalorizar e então os deste tipo não haverá mesmo ninguém que os adquira. Teremos então mais capital imobilizado em bens não transacionáveis, quer interna quer externamente.
Como é possível que o atual Presidente da Câmara de Braga e dois dos putativos candidatos ao cargo nas próximas eleições pratiquem uma asneira, senão uma maldade destas? Utilizando, claro está, o dinheiro dos contribuintes.
Embora relacionado com este tema, mas desviando um pouco a “agulha”, tenho achado muita piada as novas bandeiras políticas desfraldadas pelo PS e pelo PSD locais. Refiro-me à enunciação da regeneração urbana como prioridade para os próximos tempos. Efetivamente andam muito atrasados no tempo, pensam e caminham ao retardador.
Há cerca de uns 8 anos, produzi um trabalho académico, mas sustentado em bases concretas e dados reais, em que defendi a tese de que a oferta de imóveis habitacionais (e também dos outros tipos) já excedia largamente a procura ou, que quiseram, as necessidades existentes e as emergentes em todo o Concelho de Braga. Este trabalho baseou-se em estatísticas oficiais do INE e está disponível para quem o quiser ler. Apesar de este fenómeno não ocorrer só em Braga mas em todo o país, como aliás está bem à vista, era neste Concelho que em 2003 esta realidade era mais acentuada. Predizia eu, nessa altura, que era altura de parar com novas edificações e optar pela requalificação dos imóveis existentes, sobretudo na zona histórica da cidade e nas freguesias não urbanas. As empresas de construção e de outros ramos, a montante e a jusante, continuariam a garantir atividade e emprego, tendo apenas que corrigir ligeiramente o tipo de trabalho a que estão habituadas e adaptar-se. Contudo, alguma reações que tive, por parte de pessoas com responsabilidade política, foi a de dizerem que “a construção ainda estava a dar muito dinheiro”. Pois agora está bem à vista o que se passa e quem fala agora, com anos de atraso, em regeneração urbana, requalificação e revitalização da cidade e do centro histórico já vem tarde. Agora há escassez de capital para fazer isso e com a agravante do desperdício de dinheiro com estas “compras”, pior ainda.
Podemos até fazer umas contas para não pensarem que estou para aqui a dizer umas palermices.
Se, em média, se gastassem 100.000 € por cada imóvel a requalificar (que é um valor acima do razoável), com 15.000.000 € seria possível recuperar, pelo menos, 150 imóveis na zona histórica. Permitindo suster o processo de desertificação humana          que tem vindo a ocorrer naquela zona e ainda, atrair novos moradores que propiciavam novas dinâmicas económicas e sociais. Se, em média, cada imóvel alojasse 4 pessoas teríamos mais 600 habitantes nesta zona da cidade.
Bom, mas felizmente que há autarcas que já adaptaram a respetiva filosofia de governação e eu conheço alguns e que se preocupam já com as inevitáveis consequências sócias que advêm da situação económica desfavorável. Há poucos dias, em conversa com um Presidente de Câmara, ele dizia-me que a prioridade é agora preparar-se para conseguir ajudar as pessoas e famílias cujas carências, até alimentares, vão aumentar. Poderá, inclusive, vir a ser necessário que se criar Refeitórios Sociais, aproveitando os recursos existentes para o efeito. Afirmando também que obras só o estritamente essencial para manter as infra-estruturas a funcionar.

Só espero vir a não ter razão.

Bom fim de semana.

2 comentários:

  1. http://www.correiodominho.pt/cronicas.php?id=3330#

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  2. Mas oh compadre, será que eles não têm o mesmo direito de gastar sem controlo, tal como o Jardim da Madeira? não estás a ver aquele edifício de estilo arquitectónico raro transformado na casa da cultura ou outra coisa parecida? só "compilicas" meu.Para mim o único problema dessas "borradas" é que depois de feitas, eles, atenção que eles não são os Espanhois, são eles mesmo, já cá não estão nem para pagar, nem para responder pelas asneiras. Valha me Deus... senhores.

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